26/01/20 - 123 dias.
Filho, hoje quero falar contigo, só contigo. Uma mensagem pra ti, para leres quando for adulto, preferencialmente quando já tiveres teus próprios filhos.
Não é fácil Theo. As vezes eu queria fazer de conta que nada disso está acontecendo, que tivesse um ser mágico que fizesse todas as coisas necessárias, se preocupasse com remédios e coisas mundanas para a gente só viver e brincar. Depois de 2 minutos conclui que o nome desse tipo de pessoa é mãe ou pai. Que esse é meu papel para ti.
Mãe/pai que faz tudo para a vida do filho ser suave e para que o filho não perceba os solavancos do caminho.
Tenho um medo, preocupação desnecessária, de ser julgada por ti e de me sentir injustiçada um dia. Porque não é fácil Theo. Te dou onze rodadas de medicamentos todos os dias. Vou anotando numa agenda pra não esquecer, não pular nem duplicar. Fora as consultas, os exames, as vacinas. E tem a curva de crescimento que não sobe, que só põe mais neura no processo de te amamentação e me dá mais insegurança.
E você, ignorando toda essa turbulência a tua volta, é um bebê tão querido, sociável, simpático. Gosta de banho e de ataque de beijinho. Gosta de gente conversando. Gosta de colo e de passeio. E de luzes. E de ventiladores. Teu sorriso largo é inebriante, capaz de derrubar muralhas, faz quem te carrega se sentir mais leve, faz cada madrugada contigo ser um privilégio. És o bebezinho dos sonhos, afinal.
Espero que quando você puder ler isso já tenha um novo rim, porque na sexta quase surtei achando que tua pressão estava alta. Fomos à tia Lu, que viu que teus exames estavam todos excelentes e pressão era a melhor de todos os tempos. Surtei por nada, plantei mil medos desnecessários. Só quero te proteger de tudo, do mundo, das tuas próprias vísceras.
Tenha uma vida feliz, filho. Mas não esquece de mim e do que passamos, mesmo que esse seja um pedido obviamente muito egoísta. A vida não está fácil, mas estou lutando para que o teu caminho seja o mais suave possível.
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