11/05/2020 - 230 dias
Internamos o Theo para a passagem da sonda, tranquilos e seguros.
Apenas 1 acompanhante pode ficar com o paciente, fiquei eu porque posso continuar amamentando. Fomos para o quarto às 11h com o Theo exausto já por tantas horas sem tirar um cochilo decente. Concordei em fazer o procedimento logo na chegada, para que ele pudesse dormir depois.
Pude acompanhar o procedimento (assim como todos os exames) que não é nada agradável. O objetivo é passar um tubo pela narina que vá até o início do intestino. Esperava que chorasse, fiquei ali com ele e com as duas enfermeiras que começaram a passar a sonda.
Ele chorava desesperado. Sonda passada, checada com seringa com ar. Cola a sonda, descolou sozinha, cola de novo, não tá funcionando, adesivo muito grande, muito pequeno…. E de repente o choro mudou, não era reclamação, era desespero.
Ele chorava mas não inspirava. "Respira, Theo, calma", eu ficava como um mantra. Até que disse pra que elas parassem pra eu pegá-lo no colo e acalmá-lo. Em 3 segundos olhei pra ele, botei na máquina, alertei: ele não consegue respirar, me ajudem. Uma enfermeira saiu para pegar equipamentos e a outra ficou conosco. "Respira, Theo". A enfermeira volta "acho que esse aqui vai ser muito grande pra ele". Me intrometi e fui mais acertiva: então vai ser o grande mesmo, porque meu bebê está ficando azul sem oxigênio!!! E usaram aquele mesmo. "Respira Theo, a mãe tá aqui".
Ele me olhava com tanto desespero, como se eu pudesse lhe prover o ar. Nunca havia me sentido tão inútil na vida. "Respira Theo, calma". Fiquei imóvel segurando a cabeça dele, como orientaram, tremendo muito, com medo de que me pedissem para sair da sala. Chegou mais uma pessoa, mais uma, mais uma, vários residentes, acho. Alguém no grupo se perguntou se seria pneumotórax. Que diabos, porque eu nunca pesquisei o que pneumotórax?
"Respira Theo". Quantos quilos ele tem? Tem 6, eu falei, como se fosse da equipe, porque tanto fazia quem tivesse a informação. Um idiota dos residentes tava com o nariz pra fora da máscara (contra a COVID-19). Todo mundo que chegava pedia de novo pra enfermeira: conta exatamente como aconteceu.
Ninguém tentou adivinhar nada. O Theo gemia com o fiapinho de ar que dava pra respirar, todo azul em volta da boquinha. Acho que tinha um pouco de urina na minha calça. Alguém com o pezinho dele na mão tentava achar uma veia. Me intrometi, "a veia no braço dele é ótima". Ela foi pro braço sem questionar. "Respira Theo, a mãe tá aqui, calma". Plugaram os eletrodos para monitorar a situação cardíaca. De repente o padrão do gemido mudou pro choro de reclamação de novo. A saturação começou a subir, só aí notei o monitor que alguém tinha acoplado ali na confusão. Chega a Nefropediatra para ver o que houve. Mas ele tá bem, diz ela bem tranquila.
A enfermeira que fez o procedimento conta pra ela que ele ficou cianótico, "bem pretinho". A enfermeira parecia quase tão aliviada quanto eu. "Respira Theo". Tirei a máscara para dar um beijinho nele. "A mamãe tá aqui, vai ficar tudo bem".
A nefro acha que como a recuperação dele foi rápida o que houve foi um laringoespasmo (a laringe fecha) e não broncoaspiração.
Passou, mas a cena se repete o tempo todo na minha cabeça e no fundo sei que ainda me culpo por não ter conseguido ser seu ar naquele momento.
Comments