20/09/2020 - 362 dias - a gente vai pegando prática, mesmo quando não queria. Teve a segunda internação para tratar infecção fúngica, teve a terceira para tratar pancreatite… a prática de saber o que levar para o hospital, o que quer dizer cada exame, o que significa a mudança de cor do rosto...
Os riscos que assumimos em cada termo de consentimento assinado perdem a nitidez e vão ficando em tons de cinza.
As responsabilidades dos remédios vão entrando no piloto automático. As brincadeiras tendem cada vez mais aos exercícios de fisioterapia… Não devia ser assim, não queria que fosse assim, mas é assim que nossa vida é. Aos poucos a gente para de questionar.
E nessa vida de remar conforme a maré tem os cheiros. O cheiro do álcool gel da entrada do hospital que nos "sintoniza" nesse piloto automático diário. O cheiro do salão de hemodiálise tem essência de paciência, para a sequência de horas que nos aguarda lá. Já te contei, Theo, que aprendi a adorar cheiro de esparadrapo? Teu pescocinho tem sempre cheiro de esparadrapo, ou de curativo ou da proteção do catéter no banho. Nosso apartamento tem cheiro de batata crua (Neocate,, o teu "leite", podia ter cheiro de baunilha, mas não tem) mas você sempre saliva e se anima com a mamadeira.
Cada internação tem cheiro de desinfetante hospitalar. Cada banho com sabonetinho de bebê tem cheiro de esperança de, um dia desses, poder dar um banho completo na banheira ou no chuveiro.
Tanta coisa estranha fica comum nessa nossa rotina. Como eu sempre digo, nem tudo que é comum é normal.
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