04/04/2021 - 558 dias - borda, prende arremata. A agulha dança, pra cima e pra baixo, fixa linhas, cores, pedrarias, fitas. Eu esvazio a mente e deixo as mãos falarem. O corpo ativa e transpira.
Pra cima e pra baixo, prende a laçada. A linha faz coisas que eu não posso fazer. Põe as coisas no lugar. Fixa as coisas no lugar planejado, do jeito escolhido, no formato desejado. Porque arte pode ser assim e a vida nem sempre.
Quero prender meus desejos para a vida do Theo, fixar os níveis de eletrólitos com linha resistente de poliamida. Bordar um rim funcional e cheio de brilhantes no seu corpinho. Nada é tão simples assim (se não for um bordado).
Então eu bordo e costuro tecidos. Ele pinta as telas. Os sentimentos fluem e se condensam em imagens palpáveis.
Quem vê o resultado não imagina. Nem vai passar pela cabeça de quem apreciar que eu bordo para fixar as coisas soltas da vida. A desnutrição, as complicações cirúrgicas, a falência renal, a parada respiratória, a infecção, a nova
infecção, a apneia, a pancreatite, a pancreatite, mais infecção, a cirurgia, mais seis pancreatites, mais cirurgia, mais uma pancreatite, o vírus, a espera pelo transplante…
Tantas coisas belas na vida.
Há que se costurar a própria resiliência, fixar a própria sanidade no lugar. Trançar experiências angustiantes e transformá-las em flores. Tudo isso vai valer a pena, será um quadro lindo e vivo.
Estou aqui em lágrimas com o tua arte ... é viceral, arde e transpassa.
Somos feitos de costuras que nos permitem tecer a nossa história ... repleta de verdades...
💜