Um exame oftalmológico, dilatador de pupila, fotos com instrumentos técnicos que pareciam mais ferramentas de tortura e a resposta... vaga, mas esperançosa. Não danificou o olho. e ele já consegue perceber luz. É provável que seja temporário e central; do córtex visual. Não dá pra ter certeza de nada. Só esperança.
Suelen tratava nosso Theo como o filho amoroso e especial que é por sua essência e buscava adaptar nossas vidas à sua cegueira e a vida dele a uma nova normalidade. Acolhedora e amorosa, parecia triste, mas transmitia tranquilidade para que ele enfrentasse a noite escura que vivia como se fosse o normal.
Já eu, mais uma vez não aceitei a situação e reagi desesperado, como o retrato d'O Homem Desesperado de Coubert.
"Esperneei" como fiz lá no Joana de Gusmão, quando recebemos a notícia de que ele estava indo e que não havia tratamento para ele.
- Tem algum tratamento, doutor?
- Quando se trata de cortex cerebral, só podemos esperar que a neuroplaticidade faça a sua parte.
- Não tem uma terapia que estimule o cérebro, doutor?
(muda de assunto evasivamente)
Saímos do oftalmo, rumo a um compromisso de trabalho. Suelen e Theo brincavam de musiquinha e careta enquanto meu compromisso terminada. Quando volto pra recepção vejo uma mãe radiante e emocionada.
- Ele imitou minha careta!
Sinal claro de uma visão recuperada.
No período da noite a visão superior e esquerda havia voltado quase totalmente e pela manhã seguinte, o campo visual completo. Foi uma felicidade completa e sem fim. Mais um episódio da montanha-russa de emoções que tem sido nossas vidas.
A alegria era tanta, que agora o nosso Blackbird cantava a música comigo e a letra, sem ter mudado desde a década de 60, mudou mais uma vez o significado: "take this sinking eyes and learn to see... all your life... you are only waiting, for this moment to be free... Blackbird Fly!
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