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Foto do escritorCristiano Chaussard

43 - Indo mais a fundo

16/07/2020 - 296 dias


Meio dia e quinze do dia 16 de julho de 2020 e eu acabei de passar em itapema exatamente pelo lugar aonde eu e a Suelen havíamos decidido durante a gestação que seria lugar onde deixaríamos as cinzas do Theo.



Antes de explicar mais um pouco sobre esta situação, quero dizer que decidimos começar a escrever coisas muito mais íntimas do que já escrevíamos antes. Assuntos que talvez fossem emocionalmente impublicáveis se, a esta altura dos acontecimentos, vocês já não soubessem como está bem o nosso Theo.

Tratam‐se de situações extremas das quais passamos e que se fossem contadas no momento que aconteceram seriam histórias muito pesadas.


Decidimos então que este seria o melhor momento para que outros casais, passando por situações tão pesadas como as que passamos, pudessem ler e sentirem-se confortados pela consciência que não estão "sozinhos no mundo".



Na ocasião de nosso luto vivo já havíamos deixado minha irmã Neneca responsável por orçar o preço da cremação, uma missão complicada e dolorosa para qualquer um.

O sentimento ao passar por esse lugar em Itapema mudou ao longo desse último ano.


Durante a gestação era um sentimento de tristeza profunda e perda.

Depois do improvável nascimento do Theo passou a ser um sentimento de alegria e alívio.

Agora, com a luta diária pela vida, embora eu tente não pensar no que sinto quando ali passo, o sentimento que impera é um medo profundo de que este lugar seja novamente necessário depois de tanta luta.


Um dia, durante a gestação, eu e a Suelen tentamos visitar esse lugar para, ainda que sem intenções explícitas, planejar de que forma poderíamos celebrar a despedida.

Era um fim de tarde já quase escuro e no local havia pessoas em atitudes suspeitas talvez usando drogas. Continuar ali parecia perigoso para uma inspeção rápida, então demos meia volta com a intenção de voltar outro dia. Depois nunca mais voltamos.



Depois do nascimento do Theo nunca mais comentamos sobre o lugar. Mas tenho certeza que toda vez que passamos ali ambos temos um pensamento velado sobre o que esse lugar significou para nós.


O lugar não foi escolhido só porque era um local bonito que transmite a paz, ou por ser o meio do caminho de Florianópolis e Pomerode (nossas cidades de moradia e cidade natal da Suelen). Também era o local mais próximo de onde meu pai e minha mãe haviam me concebido.


Também é o lugar onde meu pai quase perdeu sua vida em um capotamento, tendo sido salvo por um médico passante que evitara um rompimento de sua medula espinhal no episódio em que fraturou vértebras. Pelo menos essa é a história que minhas irmãs me contam sobre o lugar que eu guardo com carinho e que passaria a ser triplamente lembrado como um marco na minha vida e agora na vida do meu filho.


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